Capitão da PM-BA suspeito de participar de esquema de tráfico de armas para facções volta a ser preso

  • 27/07/2024
(Foto: Reprodução)
O capitão Mauro Grunfeld foi preso na manhã deste sábado (27). Ele e outras 19 pessoas foram alvos de mandados de prisão da Operação Fogo Amigo. Mauro Grunfeld foi preso novamente no âmbito da Operação Fogo Amigo Reprodução/Redes sociais O capitão Mauro Grunfeld, suspeito de participar de um esquema de compra e venda de armas que abastecia facções criminosas na Bahia, voltou a ser preso na manhã desta sábado (27). Mauro Grunfeld foi preso pela primeira vez em maio e solto na noite de 17 de julho, horas antes da publicação da reportagem "Conversas interceptadas mostram atuação de capitão da PM-BA em esquema de tráfico de armas para facções criminosas, dizem PF e MP" feita pelo g1 e jornal Bahia Meio Dia da TV Bahia. A decisão foi tomada pela 1ª Vara Criminal da Comarca de Juazeiro, sob a presidência do juiz Eduardo Ferreira Padilha, que concedeu liberdade provisória ao capitão Mauro Grunfeld. O suspeito havia solicitado a revogação de sua prisão preventiva, alegando possuir bons antecedentes e endereço fixo, além da ausência dos requisitos para manutenção da medida cautelar. Na época, o Ministério Público manifestou-se contra a solicitação, sustentando que as circunstâncias que justificaram a prisão preventiva permaneciam inalteradas. No entanto, o juiz considerou que Grunfeld não ocupava papel de liderança na suposta organização criminosa investigada, sendo passível de responder ao processo em liberdade devido à ausência de antecedentes criminais. Em sua decisão, o juiz Padilha ressaltou que a prisão preventiva deveria ser uma medida excepcional, aplicável apenas quando houvesse evidências concretas de perigo à ordem pública ou à instrução processual. Citou ainda um precedente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que permitiu a substituição da prisão preventiva por medidas cautelares diversas para réus sem papel de destaque em organizações criminosas. Quando liberado, Grunfeld teria que obedecer as seguintes regras: não alterar seu endereço sem comunicação prévia ao juízo comparecer a todos os atos processuais não se ausentar da comarca de sua residência sem autorização e evitar contato com pessoas relacionadas aos fatos investigados. O não cumprimento dessas medidas resultaria na decretação de nova prisão preventiva. De acordo com informações da Corregedoria da Polícia Militar, o capitão Mauro Grunfeld responde a processo administrativo disciplinar (PAD), independentemente da apuração de responsabilidade na esfera criminal. O que aconteceu Ex-subcomandante da 41ª Companhia Independente (CIPM/Federação-Garcia) e condecorado pela corporação como "policial militar padrão do ano de 2023" pelo "fiel desempenho nos serviços prestados", Grunfeld foi preso preventivamente em maio. Ele e outras 19 pessoas foram alvos de mandados de prisão da Operação Fogo Amigo, que desvendou o esquema criminoso da organização batizada como "Honda". ANUÁRIO DA SEGURANÇA: Uma a cada quatro mortes por intervenção policial registradas no Brasil em 2023 ocorreu na Bahia A suposta participação do capitão Mauro Grunfeld no esquema de compra e venda de armas que abastecia facções criminosas na Bahia foi revelada por meio de conversas em aplicativos de mensagens. As informações foram interceptadas pela Polícia Federal, em investigação conjunta com o Ministério Público do Estado (MP-BA). O capitão nega as acusações. A defesa dele diz que as armas eram compradas para uso pessoal. [Veja os detalhes ao final do texto] Bahia tem 7 entre 10 municípios do país com maior proporção de homicídios em 2022, aponta Atlas da Violência Assassinatos caem 4,1% em 2023, mas BA segue com mais mortes violentas no Brasil pelo 5° ano seguido, aponta Monitor da Violência De acordo com a apuração conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), de Investigações Criminais Norte e das Promotorias Criminais da Comarca de Juazeiro, o capitão era um "contumaz negociador de armas e munições". Grunfeld foi descrito como o principal remetente de dinheiro para Gleybson Calado do Nascimento, também policial militar da Bahia e apontado como um dos maiores operadores do esquema que movimentou quase R$ 10 milhões entre 2021 e 2023. Um documento sigiloso, obtido pela TV Bahia, aponta que entre 18 de fevereiro de 2021 e 13 de fevereiro de 2022, o capitão transferiu R$ 87.330,00 para Nascimento. "Os diálogos entre os dois indivíduos não deixam nenhuma dúvida de que os altos valores transacionados, demonstrados abaixo, referem-se à comercialização de armas de fogo e munições. Denota-se, da conversa, que a negociação entre eles é algo permanente, habitual, comum, sem nenhuma formalidade", indica um trecho do material. 📱 NOTÍCIAS: faça parte do canal do g1BA no WhatsApp Confira algumas transações: Em 26 de setembro de 2023, por exemplo, Grunfeld teria negociado com Gleybson. "Manda o pix", escreveu o capitão, se referindo à chave necessária para a transferência e questionando também o valor. Conversas interceptadas mostram atuação de capitão da PM-BA em esquema de tráfico de armas Imagem retirada do dossiê da investigação da PF e MP-BA. Em 29 de setembro do ano passado, outra conversa mostrou que Grunfeld também era vendedor. "Apareceu pedido de 5 cartelas de 7.65", enviou o policial. Ele se referia ao tipo de cartucho para uma pistola. Conversas interceptadas mostram atuação de capitão da PM-BA em esquema de tráfico de armas. Imagem retirada do dossiê da investigação da PF e MP-BA. Em 1º de outubro de 2023, uma nova conversa mostra Gleybson oferecendo um revólver a Grunfeld por R$ 4,5 mil. Conversas interceptadas mostram atuação de capitão da PM-BA em esquema de tráfico de armas Imagem retirada do dossiê da investigação da PF e MP-BA. A investigação também aponta que essas armas e munições tinham destino específico: "criminosos faccionados que atuam no Bairro do Calabar, em Salvador". As negociações seriam intermediadas por traficantes de drogas. Diante desses indícios, Grunfeld foi alvo de mandados de prisão preventiva e busca e apreensão — na Academia da Polícia Militar, na Boa Viagem, e na residência dele, no bairro da Graça, ambos endereços em Salvador. Porém, os agentes encontraram uma pistola sem o devido registro na casa e realizaram a prisão em flagrante. O capitão alegou que a arma foi adquirida de um policial civil e que a propriedade seria de outra agente, mas disse não saber informar nome ou lotação da servidora. Ele argumentou também que fez a compra porque precisava de defesa pessoal e policiais militares estariam com "dificuldades burocráticas" para obter o artefato. Operação contra PMs, CACs e empresários suspeitos de desviar armas para facções tem 19 presos e um baleado Esquema de compra e venda de armas Operação da Polícia Federal mira quadrilha especializada na venda ilegal de armas no Nordeste. Divulgação/PF A operação que prendeu 19 pessoas, dentre elas 10 militares, foi deflagrada em 21 de maio. Policiais da Bahia e de Pernambuco, além de CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) e lojistas, são suspeitos de integrar a organização criminosa especializada em vender armas e munições ilegais para facções criminosas. Os mandados foram cumpridos em Arapiraca, no estado de Alagoas; em Petrolina, no estado de Pernambuco; e em Juazeiro, Salvador, Santo Antônio de Jesus, Porto Seguro e Lauro de Freitas, na Bahia. De acordo com a Polícia Federal, o modus operandi do grupo consistia em reter armamentos apreendidos em operações policiais. Ao invés de apresentar o material na delegacia, os suspeitos revendiam essas armas para organizações criminais. Já a obtenção de armas novas era feita por meio de laranjas. Os investigados pagavam pessoas sem instrução, geralmente da zona rural das cidades e sem antecedentes criminais, para tirar o Certificado de Registo do Exército (CR) — necessário para obtenção do CAC. Eles custeavam todo o processo para o laranja conseguir o documento. Garantido o registro, a pessoa comprava o artefato em lojas especializadas, também ligadas ao esquema, depois registrava um boletim de ocorrência por furto e dava a arma como extraviada para que não fosse conectada ao comprador final. Se por alguma razão, esse procedimento não fosse feito, o número de série era raspado ou refeito. LEIA MAIS Conheça Santo Antônio de Jesus, cidade baiana com maior taxa de homicídios do Brasil Estado de violência: Bahia lidera ranking de mortes violentas e registra quase 7 mil assassinatos Segunda maior cidade da BA registra média de 28 assassinatos por mês; chefes de facções foram transferidos para presídio de segurança máxima Salário de R$ 8 mil e ostentação nas redes sociais Capitão da PM exibia fotos em iates, passeios em restaurantes caros e viagens. Reprodução/Redes sociais Oficial da PM há 17 anos, o capitão informou que recebe salário fixo de R$ 8 mil. Como bens, declarou apenas ser proprietário de um apartamento, estimado em R$ 700 mil, e possuir R$ 20 mil no banco, em conta poupança. Seu estilo de vida, no entanto, era luxuoso. Nas redes sociais, o capitão da PM exibia fotos em iates, passeios em restaurantes caros e viagens a destinos turísticos badalados, como a Ilha de San Andrés, na Colômbia. Flagrante revogado Armas e munições apreendidas pela Polícia Federal em operação contra venda ilegal de armamentos. Polícia Federal/Divulgação Ao analisar o caso, a 26ª Promotoria de Justiça Criminal da Capital, área do MP-BA não vinculada à investigação principal, pontuou que "não há qualquer elemento probatório ou mesmo fático que aponte para eventual participação do custodiado em organização criminosa ou que reitere na prática de crimes". O órgão ponderou que o procedimento criminal está sob sigilo, o que impede os promotores de acessarem o conteúdo, sendo o juízo da Vara Criminal de Juazeiro o "único órgão julgador que detém o real conhecimento das imputações porventura irrogadas em desfavor do custodiado". A partir dessas ponderações, em 21 de maio, o MP-BA se pronunciou pela liberdade provisória com pagamento de fiança. No dia seguinte, na audiência de custódia, a Justiça acatou os argumentos e concedeu o benefício da provisória ao capitão. Mas a juíza em questão não expediu alvará de soltura para que fosse cumprido o mandado de prisão preventiva em aberto. Assim, na mesma data, a preventiva foi cumprida. PF prende 19 pessoas em operação contra PMs da Bahia e Pernambuco suspeitos de venda de armas e munições ilegais para facções Investigação por homicídio doloso Mauro Grunfeld é oficial da PM há 17 anos. Reprodução/Redes sociais Mauro Grunfeld é alvo ainda de um inquérito por homicídio doloso durante o exercício da função como policial militar. O caso é de 10 de abril de 2013, quando ele era tenente e comandante de uma guarnição da Ceto (Companhia de Emprego Tático Operacional) em atuação no município de Santa Cruz Cabrália. O registro da ocorrência diz que Grunfeld e outros quatro soldados faziam ronda noturna na Rua A, no bairro 5º Centenário — local descrito como sede de "intenso tráfico de drogas". Ao se aproximar da área, a guarnição teria sido "recebida a tiros por cerca de quatro a cinco indivíduos, sendo forçada a usar da força necessária, revidando os tiros". Um deles seria um jovem de 18 anos, atingido com pelo menos quatro tiros. A corporação o encaminhou para uma unidade de saúde, mas o rapaz já chegou sem vida. Em depoimentos, a família negou que o rapaz tivesse envolvimento com o crime. O irmão mais novo da vítima, que viu o jovem ser baleado, defendeu que ele teria corrido apenas por medo do tiroteio. A Polícia Civil concluiu o inquérito sem pedir o indiciamento dos militares. A instituição remeteu o processo ao Ministério Público da Bahia (MP-BA), tratando o caso como "homicídio privilegiado" — termo usado para situações em que o autor age sob forte emoção ou provocado pela vítima. Esses casos não preveem uma tipificação diferente do crime, mas implicam redução de pena. Com a Justiça, o processo não avançou muito. Ainda em 2013, o MP-BA apontou "a precariedade e a pobreza dos (pouquíssimos) elementos de convicção colhidos e acostados aos autos do inquérito policial". Os promotores pediram uma série de providências, como novo exame no local do fato, juntada de fotografias do cadáver e esclarecimentos sobre os disparos que atingiram a vítima. Dez anos depois, o MP-BA reforçou a cobrança, mas não há registro de que a Delegacia de Santa Cruz Cabrália tenha retomado a investigação até o momento. O g1 e a TV Bahia fizeram questionamentos à Polícia Civil, que não retornou o contato. O que diz a Secretaria de Segurança Pública Marcelo Werner, titular da Secretaria de Segurança Pública da Bahia. TV Bahia A Secretaria de Segurança Pública da Bahia informou que o cenário levou a pasta a fortalecer o trabalho das corregedorias. Titular da SSP-BA, Marcelo Werner destacou a criação de um grupo que tem como objetivo o combate a crimes praticados por policiais, a Força Correcional Especial Integrada (Force). "Já foram mais de 10 operações somente da Force, diversos, sem prejuízo das operações realizadas pelas corregedorias próprias”, disse. “Respeitando todo processo legal, uma vez que haja desvio de conduta, prática de crime por parte do policial, a gente tem sim que fazer investigação e levar eles à Justiça”, afirmou o secretário. LEIA MAIS Roubos de celulares caem 10% no Brasil Brasil registra queda de 3,4% em mortes violentas intencionais em 2023 Meninas negras de até 13 anos são maiores vítimas de estupro no Brasil Gasto dos municípios com segurança cresceu 32% em cinco anos Negros têm quase 4 vezes mais chances de serem mortos pela polícia do que brancos O que diz a defesa dos envolvidos A defesa de Mauro Grunfeld negou que o capitão comprava armas e que tenha qualquer vínculo com facções criminosas. Exaltou o cliente como profissional exemplar e até apresentou um certificado de policial militar padrão emitido em 2023. O advogado ainda afirmou que Grunfeld apenas adquiria munições para uso próprio, com o objetivo de aprimorar o treinamento. "Armamento não, mas munições para uso próprio da atividade policial cotidiana e diária dele, sim. Ele reconhece isso", disse à TV Bahia. Questionado sobre conhecimento do cliente a respeito da procedência dessas munições, o advogado Domingo Arjones afirmou que Grunfeld tinha conhecimento de que "estava adquirindo uma munição própria para treinamento". Quanto ao inquérito sobre homicídio doloso, o advogado informou que não vai se posicionar pois não obteve acesso ao processo. Também procurada, a defesa de Gleybson Calado do Nascimento, PM suspeito de ser um dos principais operadores do esquema, disse que impetrou um pedido de habeas corpus e aguarda o posicionamento do Ministério Público Estadual (MP-BA) antes de se posicionar. Veja mais notícias do estado no g1 Bahia. Assista aos vídeos do g1 e TV Bahia 💻

FONTE: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2024/07/27/capitao-da-pm-ba-suspeito-de-participar-de-esquema-de-trafico-de-armas-para-faccoes-volta-a-ser-preso.ghtml


#Compartilhe

Aplicativos


Locutor no Ar

Peça Sua Música

Top 5

top1
1. Bola de sabão

Claudia Leitte

top2
2. Hero

Mariah Carey

top3
3. Amiga da minha mulher

Seu Jorge

top4
4. Alagados

Paralamas do Sucesso

top5
5. Take On Me

A-há

Anunciantes